Depois de séculos de silêncio, celebrou-se novamente Nábia nas margens do rio a que dá nome. Um evento único onde a Serpente esteve presente como testemunha.
A nova tecnologia levou-nos sem dificuldades a uma bonita vila do Minho. E se a beleza da terra se expõe sem pedir licença há ainda mais para descobrir do seu passado.
A tarde começou com uma visita guiada ao Castro dos Castelos, um dos muitos da região que alberga vida humana antes do tempo de Cristo. Na chegada ao Castro, um casal do “tempo castrejo” aguardava pelos curiosos visitantes para oferecer bebida da época.
A explicação esclareceu curiosos e especialistas da mesma forma. E apesar de ainda haver muita terra para escavar até que todo o Castro veja a luz do dia, muito aqui foi feito para que o passado pré-Romano português seja preservado e estudado. Muito pela própria mão e pela vontade das gentes de Durrães.
Houve ainda tempo para mais uma curiosidade histórica apenas a alguns metros do Castro. A Ponte Seca onde Reis paravam carruagens para um jantar seguro e de vista requintada.
E por falar em jantar, este era também uma das propostas do evento que continuava, em crescendo, a superar expectativas.
Num espaço que não poderia ser melhor escolhido, repleto de camadas e camadas de História, a Levada das Pesqueiras estava pronta para receber os muitos visitantes que confirmaram, sem grandes margens para dúvida, existir um forte interesse no passado que a todos nós pertence.
Depois de viajar por todo o país é difícil encontrar gente como se encontra na região de Durrães.
Há orgulho em bem-receber, em abrir braços para todos os géneros, crenças e feitios. Há vontade de nos fazer sentir em casa, de mostrar que este belo e único lugar tem tanto para oferecer.
Foi, afinal, uma colaboração entre dezenas de pessoas da terra (e não só!) que permitiu tão bem-executado detalhe. Uma fogueira ardia já no centro da estrutura principal, rodeada pelas margens do Neiva e com muito para fazer para pequenos e graúdos. Mais do que vitrines de museu, aqui meteram-se mãos à obra.
Muito para lá das cada vez menos interessantes feiras medievais, o que aqui estava servia para instruir, religar-nos à terra que pisamos. Velhos e novos aprenderam da melhor forma. Mas esta inovadora lição não se ficaria por aqui.
Da magnífica ponte que nos permitia atravessar para moinhos que susteram a vida na região há dezenas de anos, velas acendiam-se com o cair da luz.
Com as palavras certas, uma voz narrou Nábia e a sua história enquanto vultos surgiam na nossa direção. Estávamos ali, afinal de contas, para uma oferenda à Deusa. E assim aconteceu.
Era agora altura de celebrar! Tomados os lugares foi oferecido aos visitantes um manjar digno, quer na qualidade quer na precisão histórica. Não revelaremos aqui a ementa por respeito a quem a preparou com tal detalhe.
3 pratos e a imersão deste evento estava estampada no rosto dos presentes. De jovens a adultos, fez-se mais do que aprender o passado: reviveu-se.
Fica a esperança que se repita e que inspire outros lugares, outras terras a fazer o mesmo. Por agora, Durrães prestou a digna homenagem a deuses de outros tempos que, estamos em crer, não poderiam ter ficado mais satisfeitos.
Aires Ferreira